Lisboa dos Mexericos
Beatriz da Conceição
Lisboa mora ao pé da dona intriga
Por isso adora até só dizer mal
Quando a calúnia sai pra rua fora
Logo Lisboa vai ao tribunal
O meu postigo dá mesmo pra rua lá
Onde as vizinhas sabem tudo o que se diz
Costume antigo tem e quando a lua vem
Olhar telhados e meter lá o nariz
Sem mais aquela, de janela pra janela
Está Lisboa tagarela a falar de mexericos
O Tejo passa, faz intrigas com a Graça
Diz, Alfama só tem raça na maré dos bailaricos
Coscuvilheira dos boatos, a leiteira
Que a Maria costureira já tem outro namorado
Gritam ardinas aldrabices p’las esquinas
Que as chinelas das varinas
Vão contar pra todo o lado
Lisboa um pátio é, dos maneirinhos
Desde Belém á Sé e ao Lumiar
Somos vizinhos, dá é zaragata
Mas a gaiata quer é falazar
Com a intriga vem, logo uma amiga aí tem
Intencionada que é de ouvir e de calar
Que por ser boa sai e por Lisboa vai
Língua afiada de rua em rua a ratar
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